terça-feira, 24 de dezembro de 2013

                                              UM DIA NA VIDA 

Imensuravelmente estupefato, meus olhos presenciavam o clímax do crepúsculo que transfigurava-se em cores inexistentes, pedi uma cerveja para acompanhar-me durante o espetáculo.
-NÃO PODE FUMAR NO RECINTO- dizia o aviso.
Rondei novamente o oculto e curto espaço que me cercava e em pouco tempo um vacilante barco chamado "consciência" oscilava no flanco das ondas e desapareceu no mar revolto & longínquo que banhava minhas convicções.  
É um belo lugar para ouvir os gritos do céu que chora pelo parto da noite nascitura. A cerveja chegou e o primeiro gole apagou o incêndio que ardia em minha garganta.
Já me embriaguei aqui antes, concordava comigo enquanto recorria às reminiscências de minhas vidas passadas.
O quadro de Rembrandt acima da vitrola por um momento se tornava mais familiar que minhas próprias mãos.
Acendi o cigarro que tinha por muito tempo atrás da orelha e mandei com voracidade a fumaça morna para esquentar meus pulmões, já que a frívola noite havia anunciado sua tênue chegada permanente.
Ao pé de meus olhos pulsavam vibrações inquietas e insatisfeitas do ambiente incompreensível que me encarava. 
A fumaça bailava sorridente e me convidava para ascender junto à ela aos céus sob a valsa muda da noite, o pedido foi seduzente, porém eu não tinha sapatos pra dançar, afinal, aonde deixei-os?
Perguntei ao garçom e ele fez com que eu apagasse o cigarro, concordei educadamente e perguntei novamente onde estavam meus malditos sapatos, ele me disse que eu os havia perdido pelos corredores de minha memória, fazia sentido, concordei e pedi outra cerveja.
Outros goles desceram, lembrei-me da dificuldade de fumar no local, uma monstruosa cólera se aposentou em meus anseios!
"COMO NÃO SE PODE FUMAR DENTRO DE UM BAR?" tomei outro gole.
Outro "look" ao redor e agora as paredes tornavam-se úmidas, de repente um corvo batia suas lúgubres asas 10 vezes por segundo dentro de mim, uma terrível febre atolou meu coração. 
Meu coração (este bobo) que sempre foi tão vulnerável aos olhares dos corvos...
Imaginei ter asas por um momento, rasgando os ventos perdidos do norte.
Ah! como seria magnifico olhar esta podre cidade de humanos fúteis de longe,
e me dar conta de que a minha única preocupação seria em voar rumo às quimeras desconhecidas...
Enquanto idealizava as exuberantes asas no lugar dos meus braços senti uma geladíssima língua subindo em minhas entranhas, me entreguei àquele deleite sem muita resistência, quanto prazer carregado em uma língua!
A essa altura já havia esquecido meu nome e minha alma dançava, descalça, uma valsa familiar, tentei ver quem me concebia o extremo gozo de ser chupado, entretanto meus olhos não conseguiam desprender-se do infinito, estava hipnotizado pelas danças fluentes da eternidade (como um rio destemido que corre em direção à quedas abismais).
Foi com muito esforço e dificuldade que consegui desgrudar-me das delícias e fitar os olhos de quem me amava tanto
foi quando me deparei com um cachorro,
jurei-lhe amor eterno
abracei-o com todo meu afago acumulado e sai do recinto sem pagar...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Jaz em minha mente
Úmidos bosques de esperança
Langorosamente, apalpando a ferida
Inebriante da lembrança
Ai de mim se me quisesses de volta, querida!

Cantando teu riso de criança
Aonde andas, minha vida? Por onde
Danças, minha fragrância?
Envenenou-se de outra saliva?

Viciou-se em outro pescoço?
Ontem lágrimas escorreram, querida
Como pra o fundo de um poço
não obstante...banharam meu eterno alvoroço

sexta-feira, 29 de março de 2013

POEMA PRAS MOSCAS

Murmurava para meus versos,
entre paredes
         e mosquitos!
Degustava um eterno gosto de fumo...
saboroso
e esquisito

Que inferno fazem do meu corpo
que a cada picada fumo um trago!
infelizes moscas de voo torto
que queres com este sangue estragado?

A agonia é eterna, eu não resisto
entrego-me à neurose 
- fraco
Mas hei de assistir vossas mortes
por overdose 
de tabaco!

domingo, 3 de março de 2013

POEMA PRA NUVEM

Um grande demônio se forma entre as nuvens pálidas.
É a nuvem mais podre que já vi....sua perfeita simetria agora se desfaz
ao meio.
E a grande boca mórbida impulsiona um sorriso
asqueroso
e feio!
É a criatura mais nefasta que já vi....um olho foi bombardeado....o outro teima em escorrer lágrimas
ácidas
para que derretam
o coração
da humanidade!
AH - terrível diabo com feições mágicas!
Que não passa de uma triste nuvem fria da cidade...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Súplica

Esfaqueia-me se for preciso
com facas de ponta sem fim
arranca-me até o peito fora
mas não fiques longe de mim!

Quero tua amizade aqui

o tempo inteiro!
que malvado és...
o Rio de Janeiro

Mas sei que a vida vai nos unir

contra a distancia iremos sumir
e da saudade iremos fugir
sob o ar da erva iremos sorrir!

Bailaremos como prostitutas

sem precisar transar por dinheiro
que malvado tu és
oh triste Rio de Janeiro

Pela perda de uma companhia majestosa

passei a odiar 
a cidade maravilhosa,
meu coração te ama como filha
viajes pra onde for
mas volte pra Brasília!

Um pedido amigo

de uma alma desamada
aos distantes ouvidos
da bela Livalmada

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Derretendo beijos

Eis que encontrei os doces lábios
com a consciência limpa
como a sabedoria dos sábios

Foste a fuga sem demora
das almas, que se enamora 
esperei inquieto por esta hora

Me afoguei 
do único gole que provei
dos milhares sonhos que sonhei

Eis que encontrei os doces lábios
qual me perdi do imenso nada
joguei fumaça por todos os lados!
como uma adolescente e bela fada

Foste a fuga sem demora
das almas que se enamora
onde meu futuro universo aflora

É como um belo barco de tesão
nos rios de saliva,
somos tolos viajantes com impressão 
de não temer perder a vida

Nos protegemos com escudo de pétalas roxas
contra os invasores solitários
(que velhos soldados, feiticeiros e trouxas)
são meus pecadores imaginários

a barreira contra o medo se ergue
não temo o bombardeio, nasci ferido
o amor declara guerra
temes! é uma guerra de perigo

É a fuga sem demora
das almas que se enamora
beijes minha boca agora!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pesadelos com verossimilhança

Foi entre os dormitórios mágicos entristecidos 
que os mais horríveis monstros despertaram 
entrelaçados,
bailando no céu,
cem demônios me espantaram.
Me vejo fascinado!
por assistir
estas lindas horripilantes criaturas
alucinado pelas mais feias escrituras
me vejo exilado,
de existir.
Foi entre as fórmulas mágicas entristecidas
que eu descobri a subtração do desejo infiel
Foram entre as mágicas formulas estabelecidas
que provei e cuspi o indesejado mel
Onde causaria tanta dor 
se não fosse no meu peito?
Que não satisfeitos com minha carne fria
devoram até meu esqueleto!
E trazem consigo os dentes da angústia,
quais mastigam minhas entranhas
encontradas e deixadas,
nas mais belas formas rústicas
que nem o cheiro me estranha...
Não me olhes assim!
diabo azul pálido de cetim
pois entre olhares indecisos
saboreio a alta tortura sem fim
Rogo-te! E deixo as minhas lágrimas, afogadas pelo vento
a felicidade é rápida
o suplício é lento....
Com essa pupila estupefata
vos imploro; não me olhes!
pois bebo sem vomitar
a estupidez da vida inteira em dois goles

Então no cume do meu coração instável
Encontrei as fórmulas mágicas da infelicidade inevitável

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Transformação

Não sou mais verme
que só chora e insulta
Embriagar-me-ei da vida
que me cuspiu em catapulta

Não serei mais delinquente
Serei alto, com beleza demasiada!
esqueci de ser grotesco ou demente
A vida já apalpa minha pegada

Viverei em algazarras
Ignorando destroços
Farei amor com as palavras!
amarei-as quanto eu posso...

Sorrirei então, enfim!
com belos dentes de marfim
Imune contra a morte.
E um grande sangue forte
poderá gritar por mim;

"A minha alma tem a mancha da sorte,
minha boca degusta um novo jardim
morrerei imune contra a morte
viverei o sonho que não tem fim!"

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A idade da alma

Aprendi a perpetuar a palavra
mas não descobri o segredo da vida
enquanto a realidade imunda me escarra
a eternidade me banha com a saliva

Aprendi cantar alto a minha prece
Enquanto a oculta morte desliza,
a velha carne apodrece
mas a jovem alma imortaliza

Aprendi a vagar como um anjo
por entre as nuvens da tristeza
e sozinho eu reencontrei
uma velha incerteza:

será que há sonhos que a realidade esteriliza?! 

pois mesmo se o lindo corpo morre
a suja alma imortaliza!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Virgem

...pobre alma enevoada que queimou sob o olhar fulgurante do amor,
jogues tua certeza para além das estrelas e quem sabe corremos para busca-la.
Enquanto tua alma queimar continuaremos a procurar;

mas o amor ainda te abraça,
que tristes séculos de caça!

Mastigando sonhos

Um passeio pelo mar
com pensamento guardado
e sentimentos exuberados,
fascinados por viajar!

Procurando um náufrago
na ilha dos teus seios
tomo mais um trago
dissolvendo-me em desejos

O barco à vela segue!
sem destino e livre
outro trago minha amada bebe
rindo a alegria que se vive.

Sem mais preocupação
com o imenso fundo mar
ela volta a me amar
fitando-me o olhar!
e coitado de mim
me afogo num litro de gim...

Então é outra noite no bar
acordo e não respiro ar
jurando estar nos braços dela
num magnífico barco à vela

A partir deste sonho então escrevo
o amor e o medo,
na gigante mente fértil
de um pobre poeta bêbado.

Transcrevendo a angústia


Já derramei muitas lágrimas
que escorreram pela eternidade inteira
não sei o motivo da ultima!
muito menos da primeira...

Desgosto me assoma
tristezas frias me percorrem a nuca
e geladas como brasas
deslizam até minha boca muda

Como silenciosos passos entre trovões
Na tempestade dos mais fúnebres corações 
pisoteiam a pobre morte enxuta.